
Com o crescimento das redes sociais, a exigência para que todos se tornem influenciadores está criando novos dilemas em diversas profissões.
A ascensão das redes sociais mudou o mercado de trabalho no Brasil, fazendo com que a produção de conteúdo se tornasse uma expectativa comum para profissionais de diversas áreas. Esse fenômeno gera questionamentos sobre a viabilidade e o impacto dessa nova demanda em um ambiente saturado. De acordo com uma pesquisa do Datafolha (2022), 75% dos profissionais relatam sentir a pressão de manter uma presença ativa nas redes sociais, independentemente de sua área de atuação.
Essa realidade é evidente em diversas profissões. A experiência de indivíduos que buscam serviços profissionais, como dermatologistas e arquitetos, ilustra essa realidade. Recentemente, um usuário de um grupo local de WhatsApp, ao solicitar a indicação de um dermatologista, recebeu um link para o Instagram da profissional em vez de um número de telefone. O perfil da dermatologista apresentava uma série de fotos cuidadosamente elaboradas, com a profissional adotando poses que destacavam seus atributos físicos, enquanto promovia tratamentos estéticos.
Arquitetos também estão adaptando suas rotinas. Em uma visita a um apartamento, uma arquiteta imediatamente começou a tirar fotos e gravar vídeos, explicando que o material seria usado para um post de “Antes & Depois” nas redes sociais, mesmo antes de qualquer contrato oficial ser firmado.
A pressão para se destacar nas redes afeta vários setores. A necessidade de produzir conteúdo pode atrair visibilidade, mas também levanta dúvidas sobre a real eficácia dessa estratégia. Muitos profissionais têm que sacrificar horas de trabalho ou terceirizar a gestão de suas redes, criando uma jornada dupla. Segundo um estudo do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV (2021), 60% dos entrevistados disseram que essa exigência contribui para o desgaste emocional, especialmente pela pressão de manter a relevância online.
Especialistas alertam para o impacto emocional que essa nova demanda pode trazer, apontando que o ego e a busca por popularidade digital são grandes motivações. O capitalismo contemporâneo, segundo análises recentes, encontrou uma nova forma de exploração ao exigir que o profissional não só execute seu trabalho, mas também venda sua imagem.
Embora a produção de conteúdo possa trazer visibilidade, fica a pergunta: o esforço compensa? O tempo investido resulta em novos clientes ou pacientes, ou a busca por reconhecimento nas redes sociais virou um fim em si mesmo? A resposta não é simples, mas o cenário sugere que a pressão por se tornar um influenciador está moldando profundamente o ambiente profissional.