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Endividamento com apostas: O drama crescente entre as famílias mais pobres

O aumento das apostas online atinge as famílias mais vulneráveis e reforça a urgência de regulamentação

Jhualisson Veiga – do DemocráticoNews

O vício em apostas online vem se tornando um grande desafio para as famílias de baixa renda no Brasil. Impulsionadas pela promessa de dinheiro fácil, muitas pessoas têm se endividado ao tentar mudar de vida por meio de jogos de azar. Com plataformas de apostas cada vez mais acessíveis e a influência de celebridades e influenciadores digitais, o problema ganha cada vez mais espaço nas discussões sobre seus impactos na sociedade.

Na última terça-feira (23/09), durante o evento ‘Em defesa da democracia, combatendo os extremismos’, na ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta importante sobre o impacto devastador dessas apostas. “Estamos vendo pessoas se endividarem tentando ganhar dinheiro fácil com apostas. Se não regularmos, logo teremos cassinos dentro das cozinhas das casas“, afirmou Lula, destacando a urgência de enfrentar o problema.

O drama por trás dos números

De acordo com dados recentes do Banco Central, só em agosto deste ano, beneficiários do Bolsa Família gastaram cerca de R$ 3 bilhões em apostas realizadas via Pix, um valor alarmante que representa 20% do total repassado pelo programa no mês.

Dos mais de 20 milhões de beneficiários, aproximadamente 5 milhões realizaram apostas, com um gasto médio de R$ 100 por pessoa. O que preocupa ainda mais é que cerca de 70% dos apostadores são chefes de família, aqueles que recebem diretamente as transferências do governo. Este cenário levanta questões sérias sobre o impacto financeiro nas famílias mais vulneráveis, que podem ver seus orçamentos comprometidos por essas apostas.

A história de Maria Auxiliadora

Maria Auxiliadora, uma jovem mãe de 24 anos, é um exemplo das muitas histórias de dor e luta por trás desses números. Moradora de Manaus, no Amazonas, ela divide o tempo entre o trabalho como vendedora em uma loja de roupas e os cuidados com sua filha pequena.

Sempre tentando equilibrar as contas no fim do mês, Maria se viu atraída por propagandas de apostas online nas redes sociais. A promessa de ganhar ‘dinheiro rápido’ parecia ser a solução para suas dificuldades financeiras. No início, fazia apostas pequenas, só para “tentar a sorte”. Mas, com o tempo, perdeu o controle.

“Eu via os vídeos de gente ganhando prêmios altos e pensei que poderia ser minha chance de sair das dívidas. Mas a cada jogada, eu me afundava mais. Perdi o que já não tinha e tive que pedir dinheiro à minha mãe para pagar as contas”, desabafa Maria.

Como muitos brasileiros, Maria acreditava que as apostas eram uma forma de sair do aperto financeiro. O que ela não sabia é que, para cada ganhador, há milhares de pessoas perdendo tudo.

Um ciclo perigoso

Para o economista Gustavo Cerbasi, o vício em apostas online é uma armadilha perigosa para as famílias de baixa renda. Ele explica que o desespero de tentar melhorar a vida, aliado à expectativa de lucro rápido, leva as pessoas a tomarem decisões financeiras ruins, comprometendo o orçamento familiar. “É uma espiral de dívidas da qual é difícil sair”, comenta Cerbasi.

A psicóloga Gisele Melo, especialista em transtorno bipolar e nas terapias de aceitação e compromisso (ATC) e terapia cognitivo-comportamental (TCC), alerta sobre os riscos associados ao vício em jogos de azar, especialmente entre indivíduos vulneráveis.

Gisele Melo, psicóloga especialista em transtorno bipolar e nas terapias de aceitação e compromisso (ATC) e terapia cognitivo-comportamental (TCC) / Foto: Arquivo Pessoal.

“O vício em jogos de azar começa como uma diversão, mas logo vira uma obsessão. A pessoa sente um prazer imediato quando ganha, mas as perdas vêm rápido, e a busca por recuperar o dinheiro perdido acaba dominando tudo. Muitos precisam de psicoterapia e, em alguns casos, até medicação para superar o vício”, explica Gisele.

A Organização Mundial da Saúde classifica o jogo compulsivo como um transtorno, equiparando-o a outras dependências, como a do álcool. “Muitas pessoas hoje usam o celular em seu tempo ocioso, e durante esse uso há uma oferta crescente de jogos que podem oferecer um risco, mesmo parecendo inofensivos”, explica a psicóloga.

A influência das redes sociais

Parte do problema está na maneira como as apostas online são divulgadas. Artistas e influenciadores digitais muitas vezes promovem esses jogos sem considerar os efeitos que podem ter sobre seus seguidores. Recentemente, a advogada e influenciadora Deolane Bezerra foi presa investigada por promover sites de jogos de azar. O cantor Gusttavo Lima também foi alvo de investigação, reforçando a pressão sobre celebridades que incentivam esse tipo de comportamento.

Operações policiais como a ‘Dracma’, deflagrada em Manaus em agosto de 2023, mostram a dimensão do problema. Essa ação desarticulou uma rede de jogos de azar promovida por influenciadores, que utilizavam plataformas ilegais para explorar pessoas vulneráveis. As investigações revelaram o envolvimento de uma rede complexa de apostas, resultando em prisões e apreensões de bens.

A necessidade de regulamentação

Diante do crescimento desenfreado das apostas online e do impacto direto sobre as famílias mais pobres, a necessidade de regulamentação é urgente. Além de proteger os consumidores, uma legislação clara pode evitar que mais brasileiros, como Maria Auxiliadora, caiam nessa armadilha financeira. Especialistas defendem que, além de regras mais rígidas, é preciso educar a população sobre os riscos do vício em jogos e apostas.

Leia mais: http://democraticonews.com.br/apostadores-de-goiania-fazem-a-quadra-na-mega-sena-acumulada-em-r-10-milhoes/

Daniela Bragança

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